sábado, 30 de março de 2013

Amarga solidão

Caminho pela rua longa e escura, talvez a procura de algo que nunca encontrarei, mas que talvez eu encontre assim que deixar de procurar. Ando sozinha ela cidade escura, onde a única cor que vejo é o brilho da lua que ilumina os meus passos. E quando me dou conta a luz do amanhecer rouba toda a tranquilidade do meu ser, deixando a lua para trás. Quisera eu, voltar para as sombras da lua, e estar no meio daquela silenciosa escuridão que me faz tão bem, pois é lá que eu ouço os sons das vozes que eu já escutei, que sinto o cheiro das pessoas que já amei, que relembro coisas dos momentos em que chorei. Fico horas ali, desejando que ninguém me encontre, que ninguém perceba a minha insuportável presença. É insuportável ver o quão as pessoas podem ser felizes sem mim. É insuportável ver que não faço falta a elas. Isso me deixa inquieta. Juro que nunca desejei ser assim, não desejei ser uma dar raras pessoas que se sentem sozinha em meio a uma multidão sufocante, não desejei precisar me sentir amada para ser feliz. Agora, fecho os olhos e me perco em meio de meus pensamentos obscuros, eu vejo uma vida que não é minha, eu desejo pessoas que não me percebem, eu amo pessoas que não sentem minha falta, eu tenho um corpo pela metade, não, eu sou alguém pela metade. Abro os olhos e vejo que realmente já amanheceu, infelizmente amanheceu, respiro profundamente aquele ar da manhã. E é ali, em plena manhã que eu percebo que não há mais forças. A única vontade de que tenho agora, é de voltar para aquela escuridão da qual tanto falei e que me faz tão bem. Porque eu tenho certeza de que por mais tumultuados os meus dias sejam, são nas noites de outono que eu percebo que sozinha mesmo eu não estou, é só olhar para cima ou para o lado. Sempre existe alguém aqui por mim, só depende de mim estar aqui ou não, eu e a minha amarga solidão.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Olhos mais maduros


Já faz um tempo em que ela parou de contar tudo para todos. Ela tem feito bom uso de uma vivência menos falante, quietinha. Olha nos olhos e afirma com toda a certeza que as coisas hoje andam melhores que na época em que, impulsiva, narrava toda a sua vida aos sete ventos. Antes mesmo de o fato em si, se confirmar. Antes mesmo do sonho se tornar realidade. Sonho desenhado por cima de um frágil papel de seda. Tão ingênua a ponto de achar que não havia problema em contar as coisas ao mundo, de achar que o olho grande, a inveja e o pensamento gordo não tinham efeito sob as circunstâncias. Depois de testes, fracassos, enganos e um pensar muito tardio. Se deu conta de que saber só, é que é saber demais. Cresce, menina falante. Aprende, menina falante. Já faz um tempo em que ela vem observado que essa atitude tem um efeito em maior proporção do que esperava. Essa atitude teve um efeito devastador. E a culpa não foi dos sentimentos, dos relacionamentos, dos seres humanos e seus recalques. Foi da fragilidade de coisas que a menina falante ainda não tinha se dado conta. Ansiedade, impulsividade. Resolveu, por fim, mudar. Aprendeu, menina falante? A fechar essa boca tão grande quanto o céu. Aprendeu? Escutar mais e falar menos. Quem sabe um dia, saber ser sozinho e se manter são e salvo, tomados pela força de um silêncio que muda ao invés de uma fala que promete, porém não cumpre. Futuro é assunto pra daqui a um tempo, menina. Inicia um diário, saia pra caminhar, estude, marque um compromisso atrasado, conheça pessoas novas, aprenda a fazer algo novo, inicie algum esporte. Tudo para preservar a sanidade. Para preservar a boca fechada. Sem decepções, arranhões, quedas, outros olhares, e o peso da opinião alheia (de quem não te conhece e com certeza não pode lhe julgar). Feche a sete chaves seus desejos e planos. E assim surpreenda até você mesma. Amadurece, menina. Felicidade é também um estado contínuo de quietude madura.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Novos ares

Nesse velho lugar o piso era de porcelanato, as paredes eram com cor de terra, os azulejos do banheiro e os móveis da cozinha. Deve ser esse condomínio, essa casa, essas portas e essas janelas com grades. O salão de festas inutilizável. O jardim sem flor. O "parque" que já não dá mais pra brincar. Deve ser essa casa e os seus metros quadrados cansados. Ar antigo, denso, tenso. Teia de aranha, cupim e poeira nas gavetas velhas. Casa antiga. Cada cômodo, algo marcado, algo vivido. Alguma história pra contar. Histórias sufocantes. A rotina esmagadora dos dias. Porém, também há histórias de alegria plena. A dificuldade de respirar nesses cômodos é cada vez mais familiar. Mal posso esperar. Pela nova rotina, pela nova casa, pelo novo ar, pelos novos cômodos e pelas novas histórias. Lá na nova casa me parece ter mais ar. Um ar mais respirável. Um ar inconfundível de liberdade. E eu preciso mesmo é de ar. E principalmente, novos ares.