quinta-feira, 28 de março de 2013

Olhos mais maduros


Já faz um tempo em que ela parou de contar tudo para todos. Ela tem feito bom uso de uma vivência menos falante, quietinha. Olha nos olhos e afirma com toda a certeza que as coisas hoje andam melhores que na época em que, impulsiva, narrava toda a sua vida aos sete ventos. Antes mesmo de o fato em si, se confirmar. Antes mesmo do sonho se tornar realidade. Sonho desenhado por cima de um frágil papel de seda. Tão ingênua a ponto de achar que não havia problema em contar as coisas ao mundo, de achar que o olho grande, a inveja e o pensamento gordo não tinham efeito sob as circunstâncias. Depois de testes, fracassos, enganos e um pensar muito tardio. Se deu conta de que saber só, é que é saber demais. Cresce, menina falante. Aprende, menina falante. Já faz um tempo em que ela vem observado que essa atitude tem um efeito em maior proporção do que esperava. Essa atitude teve um efeito devastador. E a culpa não foi dos sentimentos, dos relacionamentos, dos seres humanos e seus recalques. Foi da fragilidade de coisas que a menina falante ainda não tinha se dado conta. Ansiedade, impulsividade. Resolveu, por fim, mudar. Aprendeu, menina falante? A fechar essa boca tão grande quanto o céu. Aprendeu? Escutar mais e falar menos. Quem sabe um dia, saber ser sozinho e se manter são e salvo, tomados pela força de um silêncio que muda ao invés de uma fala que promete, porém não cumpre. Futuro é assunto pra daqui a um tempo, menina. Inicia um diário, saia pra caminhar, estude, marque um compromisso atrasado, conheça pessoas novas, aprenda a fazer algo novo, inicie algum esporte. Tudo para preservar a sanidade. Para preservar a boca fechada. Sem decepções, arranhões, quedas, outros olhares, e o peso da opinião alheia (de quem não te conhece e com certeza não pode lhe julgar). Feche a sete chaves seus desejos e planos. E assim surpreenda até você mesma. Amadurece, menina. Felicidade é também um estado contínuo de quietude madura.

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