segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nunca irá saber.

Você concerteza deve ter ouvido o meu riso infantil, que durante alguns momentos era motiva motivado apenas pelo nervosismo. Deve ter sentido a mão gelada que apertava a sua mão levemente para não ser desmascarada. A boca é a parte do corpo que menos se comunica. Imagino que deve ter ouvido algumas dessas voces que falavam em mim sem que eu pudesse contê-las. Mas, ainda que tenha ouvido, não ouviu tudo. Nuna ficou sabendo que eu inventava os pretextos mais criativos para vê-lo, que eu planejava sempre os encontros que eu chamava de coincidências, que antes de ir até onde você estava, passava mais perfume que de costume. Eu mudava, várias vezes a roupa, ficava incontáveis minutos em frente ao espelho, procurando o melhor ângulo, o melhor sorriso. Ensaiava, em vão, como agiria quando o encontrasse: o cumprimento, os gestos, as palavras. Para tudo tinha um roteiro totalmente estudado para ser traído, pela instabilidade que me dominava ao ficar diante dele. Aquele esforço desumano para aparentar serenidade com uma escola de samba desfilando no coração. Ele nunca irá saber que, depois de encontrá-lo, eu contava os segundos pro próximo encontro. O caminho dos seus olhos percorreram, cada movimento, cada vírgula da sua fala. Era como se eu quisesse descobrir alguma possibilidade de aproximação, ainda que pequena, ainda que remota. Relembrar também era uma forma de senti-lo perto de mim de novo, mesmo que tenha suspeitado de que eu ainda sentia algo, não descobriu tudo.
Não descobriu, que seu riso era a minha canção preferida, que em alguns momentos da minha ilusão, senti vontade de pedir que jogássemos as armas no chão para que nossas mãos pudessem se encontrar, e se tocar. Nunca descobriu que eu escrevi vários versos, que eu nunca lhe entreguei, que muitas vezes, á pedido do meu coração, liguei apenas para ovir sua voz dizer alô e desliguei sem uma única palavra, que cantei todas as músicas de amor do meu repertório lembrando dele, que o primeiro e o último pensamento do dia era ele. E que lembrava que, ás vezes, lembrar doía, uma dor morna no peito, como doem os sonhos que não acontecem, e que a gente desconfia que não vão acontecer, nunca.

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