domingo, 21 de novembro de 2010

Silêncio

Eu disse pra mim mesma, nenhum pio. Não vou falar nada, já que sou tão imprópria, inadequada e boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em saber saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu sorriso incomoda, meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca, meu carinho é pena, meu dengo é cobrança, minha saudade é prisão, minha preocupação é chatisse. Minha insegurança problema meu, meu amor é demais, minha agressividade insuportável, meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor, as ruins matam o resto todo, tudo. Minhas críticas causam coisas terríveis, minhas palavras cuidadas incomodam, minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. Meu sem fim dá longo vontade de encurtar. Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nunca agradam. Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos de frases são jovens demais. Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra. Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego. Minha voz doce assusta, minha voz brincalhona é ridículo, minha voz séria alarde. Por isso eu disse pra mim mesma, nenhum pio. Falar o que sinto é, na hora, desintegrar com seu olhar. Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto. Devo sentir por personagens de livros, filmes e jornais ? É assim que se diz sem ser o que não importa de verdade ? E se for o contrário ? Mas pra dizer do contrário, fica sempre no ar, é melhor não dizer. Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. Se digo algo sobre a vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. Se falo sobre a vida dos outros, que papo ridículo é esse ? Se falo sobre as coisas me sinto mais uma delas. Se provoco, eu que provoque sozinha porque ele nem é trouxa de cair. Sobre os livros, nunca são os que interessam. Sobre minha reportagem, nem quis ler. Meus sonhos evito falar, um medo de ser menina. Quieta, eu fico. É assim que será, para sempre. Se digo certo, isso logo acaba. Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba. Se eu for mulher, mulher é um saco. Se eu for homem, homem só existe ele. Se eu for criança, fale com sua analista. Combinei comigo mesma, nenhum pio. Falar da gente pode ? Pode, desde que, depois, eu tenha estrutura para ver toda uma massa desistente desabando sobre meu sofá pequeno. Não vou falar nada, nadinha. Sobre dor não toca, sobre prazer toca pouco. Nada, nada é nada. Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende. E se respondo, ofende mais. E se exclamo, minha vontade de viver soterra. E se são três pontinhos, não posso. Se começo preciso terminar, mas quando termino, ele já não está mais ali. Se repito, quase explode. Se diga uma, sou boa de ser guardada em algum lugar que nunca vejo. Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca. Nenhum pio, eu consigo. Se for o que eu penso, eu penso errado. Se for o que eu não penso, errei por não pensar. Se não for nada disso, eu que pensasse antes. Se estou animada, cuidado com a rasteira. Se estou desanimada, não tem mão pra levantar. Nada, não vou sussurrar, nenhum som, respiração muda, o silêncio absoluto, olhando para ele. Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade, que quem cala consente. E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento. O que eu mais temia, o que eu não queria descobrir. Ela me diz, e o pior é que eu nem posso falar por ela. É tudo mentira.

Um comentário:

  1. oi boa noite! virei seu fã! eu sou so um admirador... gostaria de te conhecer pelo msn ou pelo orkut tanto faz!não sou nenhum maniaco nem muito menos pisicopata, hehehe. ja ti vih, moro em fsa tbem no caseb! bjus fica com Deus!

    ASS: Dirlan
    msn: dadogato_fsa@hotmail.com

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